Em um ano, Biden gerou mais frustrações do que entusiasmo

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Com prestígio abalado e sob risco de perder o controle do Congresso, em novembro, presidente americano precisa destravar agenda doméstica paralisada por ação de republicanos e democratas desertores. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em entrevista coletiva sobre seu primeiro ano de mandato, na Casa Branca, no dia 19 de janeiro
Reuters/Kevin Lamarque
Impopular é a palavra que resume Joe Biden em seu primeiro ano no comando da Casa Branca. O índice de aprovação, em torno de 40%, representa um dos mais baixos para um presidente americano a esta altura do mandato. Em termos de desprestígio, ele só fica atrás de seu antecessor, Donald Trump. E o que está por vir em 2022 pode ser bem pior para os democratas.
Os prognósticos mais otimistas dão como certa a derrota em pelo menos uma das câmaras do Congresso nas eleições de meio de mandato, em novembro, quando serão renovados os 435 deputados e um terço dos senadores.
Para quem assumiu o cargo com a promessa de aglutinar os americanos, reverter os danos e as extravagâncias do governo anterior e recuperar a reputação dos EUA, Biden gerou mais frustrações do que entusiasmo: não conseguiu unificar, sequer, a base democrata e ainda deu fôlego aos republicanos para prosseguir com as teorias conspiratórias de que sua eleição foi fraudada.
No primeiro semestre, a pandemia parecia ter dado uma trégua a Biden, que acelerou a distribuição em massa de vacinas e chegou a declarar vitória sobre o novo coronavírus em 4 de julho, Dia da Independência. Foi atropelado, contudo, pelas variantes delta e ômicron e também pela resistência de um terço da população ao imunizante.
O vírus que matou mais de 800 mil americanos ajudou a agravar as divisões no país e atualmente infecta em velocidade galopante um número recorde de pessoas.
Diretrizes confusas do governo sobre a obrigatoriedade da vacina ou o uso de máscaras são capitalizadas por governadores republicanos e abalam a confiança no presidente. Recentemente ele amargou duro golpe da Suprema Corte, de maioria conservadora, que derrubou sua decisão de impor a vacinação em empresas com mais de 100 funcionários.
Enquanto a pandemia persiste, a inflação disparou para 7% em 12 meses, o maior nível em 40 anos, e produtos sumiram das prateleiras, reflexo do caos na cadeia de suprimentos. Os democratas deram em março aval ao pacote de estímulo de US$1,9 trilhão para atenuar os efeitos da Covid-19, e uma maioria bipartidária do Congresso concordou com um plano de infraestrutura de US$1,2 trilhão. Ponto para Biden.
Mas o ambicioso projeto de bem-estar e clima do presidente, que previa US$ 1,75 trilhão em gastos sociais e vislumbrava tardiamente benefícios como licença maternidade remunerada e pensão alimentícia nos EUA, foi reduzido. Ainda que enxuto, empacou no Congresso.
Mais do que a esperada oposição republicana, Biden enfrenta a desordem em seu partido, com um racha entre as alas progressista e moderada. A resistência às propostas de avanços sociais e para reduzir os efeitos das mudanças climáticas se evidencia em dois senadores democratas desertores – Joe Manchin e Kyrsten Sinema.
A dupla empata também a reforma eleitoral e barrando tentativas de pôr fim às manobras de obstrução no Congresso para aprovar o projeto por maioria simples.
Os fracassos de Biden superaram as realizações. A retirada precipitada e sem planejamento do Afeganistão é um exemplo. Por mais que o governo americano tenha conseguido trazer em poucos dias para os EUA mais de 130 mil pessoas ameaçadas pelo Talibã, são as imagens de caos e desespero no aeroporto de Cabul que serão perpetuadas.
Findo o primeiro ano, o presidente americano tem uma pequena janela aberta antes das eleições de novembro para tentar destravar sua agenda doméstica, paralisada no Congresso.
“Eu não previ um esforço tão grande para garantir que o mais importante fosse que o presidente não fizesse nada”, atestou Biden nesta segunda-feira sobre os republicanos em sua segunda entrevista coletiva como presidente.
Mas há outros obstáculos. Pesam contra Biden o cansaço dos americanos, que descontam nele as incertezas causadas pela pandemia, o desencanto injetado nos próprios democratas e a sombra de Donald Trump, ressurgindo em comícios como prenúncio de uma possível candidatura.

Fonte: G1 Mundo